Mães querem que a qualidade do cardápio seja parte do programa educacional
Francine Lima
No meu tempo de primário (hoje ensino fundamental), eu tinha uma lancheira cor-de-rosa. Se bem me lembro, era da Moranguinho, aquela personagem cabeçuda que na versão boneca tinha cheiro de fruta. Minha lancheira de plástico levava com freqüência uma garrafinha térmica com chá mate frio, feito em casa, e opções variadas de lanche caseiro. Parte dos meus colegas preferia comprar o lanche na cantina da escola. Havia entre eles fãs de uma bebida açucarada a base de soja com sabores variados, que eu levei anos para experimentar. Eu me lembro que a fila formada na frente do balcão era, na maioria, de crianças famintas pedindo salgados de presunto e queijo, esfiha de carne, misto quente, cheesebúrguer e refrigerantes. Pra mim era um pouco esquisito comer esse tipo de coisa todo dia, já que eu estava acostumada às comidinhas trazidas de casa. É verdade que quem levava dinheiro e tinha liberdade pra comprar o que quisesse carregava um certo status de independência e poder, em comparação com as crianças que levavam lancheira. Mas, na ausência de opções mais saudáveis na lanchonete, eu preferia pagar mico com a Moranguinho.
Os tempos mudaram, a obesidade cresceu e a preocupação com a alimentação saudável desde o primeiro dia de vida das pessoas ganhou dimensões maiores. O cardápio tradicional das cantinas escolares, já faz alguns anos, tem sido alvo de críticas e até proibições, ao mesmo tempo em que os programas educacionais têm incorporado atividades com a finalidade de ensinar às crianças o que vale a pena comer. Mas ainda não deu para relaxar. Uma amiga me contou que a escola do filho dela proíbe os pais de colocarem suco natural (feito em casa) na lancheira das crianças. Principalmente suco de laranja. O motivo alegado pela escola é que, com muita frequência, acontece de a fruta apodrecer antes da hora do recreio e a criança ter uma diarreia por tomar suco estragado. Na intenção de evitar surtos diários de diarréia, a escola preferiu proibir os sucos caseiros e sugerir que as mães mandem suco de caixinha mesmo. Faz sentido. Mas minha amiga estava se descabelando atrás de um suco industrializado que valesse a pena. Ela me disse que só encontrava porcarias no supermermercado, e que comida saudável parecia cada vez mais cara.
Entre a diarreia e os industrializados-porcaria, o que fazer?
Fui investigar e descobri que, na intenção de resolver parte do problema de falta de qualidade no lanche das crianças, há escolas criando problemas novos. Há colégios que impõem o que os alunos podem e o que não podem levar na lancheira. E as mães têm de obedecer, mesmo quando não concordam. É o caso da minha amiga, que acha um absurdo ser obrigada a dar suco de caixinha pro filho dela. Outras instituições estão optando por proibir toda e qualquer lancheira e oferecer seu próprio lanche. Normalmente, o cardápio é publicado previamente no site da escola, mas isso não quer dizer que os pais podem alterá-lo.
Pizza, cachorro-quente, biscoito doce, bolo, doce de leite, goiabada. De vez em quando, tudo bem. Toda criança merece um agrado. Mas tudo isso na mesma semana, como costume, pode ser a ruína do projeto de uma mãe que pretende que seu filho aprenda desde cedo a se alimentar corretamente. É açúcar demais. É incentivo demais ao paladar doce, ao tipo de prazer que deveria ser restrito a ocasiões especiais. Como se defender dos cardápios ruins impostos pelas escolas e como transformá-las em aliadas da educação alimentar?
Conversei com a nutricionista funcional Patricia Davidson Haiat, que atende crianças em seu consultório no Rio de Janeiro e promove cursos sobre como melhorar a alimentação infantil. Boa parte de seus pacientes são crianças com algum tipo de alergia alimentar, que não podem comer tudo que está no cardápio escolar. Nesses casos, ela consegue intervir na alimentação do paciente, comunicando-se por escrito diretamente com a coordenação do colégio. Mas, quando a preocupação da mãe são os teores de açúcares e gorduras nos lanchinhos, e não alergias, não adianta simplesmente pedir que a escola abra uma exceção. Segundo Patricia, que também é mãe, o cuidado da instituição de ensino com a alimentação dos alunos também depende da cobrança dos pais. “A primeira providência a tomar é conversar com outros pais de alunos e com a escola. Pergunte se a escola tem uma nutricionista e, se tiver, converse sobre as mudanças que parecem necessárias”, diz Patricia.
Num fórum sobre o assunto que encontrei na internet, uma mãe dizia que o cardápio foi um dos motivos pelos quais decidiu mudar a escola do filho. Se essa atitude parece um tanto radical, vale pensar que, se a escola está oferecendo alimentação, esta deve estar de acordo com os valores que a escola está procurando transmitir aos seus alunos. Melhor que trocar de escola seria, então, ressalta Patricia, incluir os programas de alimentação entre os critérios que os pais consideram na hora de escolher a escolha dos filhos.
No meu tempo de primário (hoje ensino fundamental), eu tinha uma lancheira cor-de-rosa. Se bem me lembro, era da Moranguinho, aquela personagem cabeçuda que na versão boneca tinha cheiro de fruta. Minha lancheira de plástico levava com freqüência uma garrafinha térmica com chá mate frio, feito em casa, e opções variadas de lanche caseiro. Parte dos meus colegas preferia comprar o lanche na cantina da escola. Havia entre eles fãs de uma bebida açucarada a base de soja com sabores variados, que eu levei anos para experimentar. Eu me lembro que a fila formada na frente do balcão era, na maioria, de crianças famintas pedindo salgados de presunto e queijo, esfiha de carne, misto quente, cheesebúrguer e refrigerantes. Pra mim era um pouco esquisito comer esse tipo de coisa todo dia, já que eu estava acostumada às comidinhas trazidas de casa. É verdade que quem levava dinheiro e tinha liberdade pra comprar o que quisesse carregava um certo status de independência e poder, em comparação com as crianças que levavam lancheira. Mas, na ausência de opções mais saudáveis na lanchonete, eu preferia pagar mico com a Moranguinho.
Os tempos mudaram, a obesidade cresceu e a preocupação com a alimentação saudável desde o primeiro dia de vida das pessoas ganhou dimensões maiores. O cardápio tradicional das cantinas escolares, já faz alguns anos, tem sido alvo de críticas e até proibições, ao mesmo tempo em que os programas educacionais têm incorporado atividades com a finalidade de ensinar às crianças o que vale a pena comer. Mas ainda não deu para relaxar. Uma amiga me contou que a escola do filho dela proíbe os pais de colocarem suco natural (feito em casa) na lancheira das crianças. Principalmente suco de laranja. O motivo alegado pela escola é que, com muita frequência, acontece de a fruta apodrecer antes da hora do recreio e a criança ter uma diarreia por tomar suco estragado. Na intenção de evitar surtos diários de diarréia, a escola preferiu proibir os sucos caseiros e sugerir que as mães mandem suco de caixinha mesmo. Faz sentido. Mas minha amiga estava se descabelando atrás de um suco industrializado que valesse a pena. Ela me disse que só encontrava porcarias no supermermercado, e que comida saudável parecia cada vez mais cara.
Entre a diarreia e os industrializados-porcaria, o que fazer?
Fui investigar e descobri que, na intenção de resolver parte do problema de falta de qualidade no lanche das crianças, há escolas criando problemas novos. Há colégios que impõem o que os alunos podem e o que não podem levar na lancheira. E as mães têm de obedecer, mesmo quando não concordam. É o caso da minha amiga, que acha um absurdo ser obrigada a dar suco de caixinha pro filho dela. Outras instituições estão optando por proibir toda e qualquer lancheira e oferecer seu próprio lanche. Normalmente, o cardápio é publicado previamente no site da escola, mas isso não quer dizer que os pais podem alterá-lo.
Pizza, cachorro-quente, biscoito doce, bolo, doce de leite, goiabada. De vez em quando, tudo bem. Toda criança merece um agrado. Mas tudo isso na mesma semana, como costume, pode ser a ruína do projeto de uma mãe que pretende que seu filho aprenda desde cedo a se alimentar corretamente. É açúcar demais. É incentivo demais ao paladar doce, ao tipo de prazer que deveria ser restrito a ocasiões especiais. Como se defender dos cardápios ruins impostos pelas escolas e como transformá-las em aliadas da educação alimentar?
Conversei com a nutricionista funcional Patricia Davidson Haiat, que atende crianças em seu consultório no Rio de Janeiro e promove cursos sobre como melhorar a alimentação infantil. Boa parte de seus pacientes são crianças com algum tipo de alergia alimentar, que não podem comer tudo que está no cardápio escolar. Nesses casos, ela consegue intervir na alimentação do paciente, comunicando-se por escrito diretamente com a coordenação do colégio. Mas, quando a preocupação da mãe são os teores de açúcares e gorduras nos lanchinhos, e não alergias, não adianta simplesmente pedir que a escola abra uma exceção. Segundo Patricia, que também é mãe, o cuidado da instituição de ensino com a alimentação dos alunos também depende da cobrança dos pais. “A primeira providência a tomar é conversar com outros pais de alunos e com a escola. Pergunte se a escola tem uma nutricionista e, se tiver, converse sobre as mudanças que parecem necessárias”, diz Patricia.
Num fórum sobre o assunto que encontrei na internet, uma mãe dizia que o cardápio foi um dos motivos pelos quais decidiu mudar a escola do filho. Se essa atitude parece um tanto radical, vale pensar que, se a escola está oferecendo alimentação, esta deve estar de acordo com os valores que a escola está procurando transmitir aos seus alunos. Melhor que trocar de escola seria, então, ressalta Patricia, incluir os programas de alimentação entre os critérios que os pais consideram na hora de escolher a escolha dos filhos.
Já para o caso dos pais que têm liberdade para rechear a lancheira da criança com o que quiserem, Patrícia avisa que existem lanchinhos bacanas, inclusive industrializados, que agradam às crianças e alimentam bem. Pode ser difícil e um pouco demorado (porque exige ler os rótulos com calma), mas com uma boa dose de atenção é possível encontrar sucos de caixinha sem adição de açúcar, sem edulcorantes artificiais e sem conservantes; bebidas a base de soja com pouco açúcar; alimentos com prazo de validade curto (portanto, sem excesso de conservantes); barras de cereais sem chocolate e com até três gramas de fibra (menos de um grama não vale a pena); biscoitos integrais. Ela também sugere preparar em casa quitutes gostosos e mais saudáveis do que os tradicionais, como bolos com fibras (com frutas secas e sementes trituradas de linhaça, por exemplo) e sanduíches com pastas criativas. Frutas inteiras e que não precisem de refrigeração, como maçã e mexerica, também continuam sendo bem-vindas na lancheira. Patricia diz que variedade é importante, porque ninguém gosta de comer a mesma coisa todo dia. E que dá pra variar bastante com comidinhas saudáveis, sem precisar apelar para os excessos.
Outra dica é investir numa lancheira térmica, que conserve melhor os alimentos e evite que a criança coma comida estragada. Se ela quiser uma lancheira com a cara de algum personagem querido contendo guloseimas engordativas que venham com algum brinde, é sua vez de argumentar dentro de casa em favor do que vale mais a pena. Afinal, mesmo com o crescente papel da escola, a educação ainda começa em casa.
(Francine Lima escreve às quintas-feiras)
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